Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação

Principal via expressa do Rio de Janeiro, a Av. Brasil ocupa há décadas o noticiário, prioritariamente devido à sua degradação, anos de abandono e falência de inúmeras empresas e lojas, muitas delas invadidas. Paralelamente, o trânsito travado, o avanço das favelas no seu entorno e vários pontos de concentração de usuários de drogas completam o cenário caótico. Agora, o que se passa para a população é uma revitalização com maior eficiência dos transportes públicos, mas o que parece ser uma solução está longe de atender aos cidadãos em geral, parecendo ser mais uma das proezas em ano de pleito municipal.
Não se pode esquecer que essas obras para os 26 km do BRT Transbrasil demoraram nove anos, marcadas por paralisações, mudanças de projeto e desperdício do dinheiro público. Agora, quem circula nos ônibus articulados ganhou tempo na viagem, pelo menos até Deodoro, porque daí em diante o problema continua, segundo relatos dos próprios usuários. E, ao longo do trajeto até o Terminal Gentileza, todos os outros veículos e coletivos das pistas ao lado vivem o megaengarrafamento diário.
Pior e ainda mais grave é a violência em toda a via. Os 58 quilômetros da Av. Brasil cortam 26 bairros e são cercados por mais de 70 favelas, num risco permanente para os mais de 250 mil veículos que transitam por ali todos os dias. Hoje, a principal via expressa também é a mais violenta do Rio, com uma nova vítima a cada 30 minutos.
Só neste ano, foram vários os crimes em plena luz do dia. Em janeiro, motoristas em Deodoro, no acesso à Transolímpica, ficaram no meio de um arrastão. Em março, um passageiro de um ônibus morreu em uma tentativa de assalto em Bonsucesso. No início deste mês, um casal numa motocicleta foi interceptado por bandidos na altura da passarela do Caju, sendo ameaçados e tendo seu veículo roubado. Estes são apenas alguns exemplos.
Plataformas novas, pinturas chamativas e ônibus articulados zero km parecem avanços, mas não é bem assim. A realidade da Av. Brasil é de uma via do terror, com quilômetros manchados de sangue e campo fértil para a criminalidade. Mais do que beleza, a via precisa de segurança para o trânsito das pessoas e de bens e serviços.
Após quase uma década, será se foi inteligente manter o mesmo projeto? Investir na malha ferroviária e metroviária parece uma melhor opção, como acontece em tantas outras metrópoles populosas do mundo. Mas isso só seria possível se tais soluções fossem encaradas como projeto de Estado e não de governo. Quem sabe um dia chegaremos lá.
Marcos Espínola
Advogado criminalista e especialista em segurança pública