Geraldo Peçanha de Almeida é psicanalista e pedagogoVivian Bentes / divulgação

Pacificação. O ano inteiro deverá ser dedicado à pacificação. Em 2023, o número de mortos em guerras pelo mundo chegou próximo de 270 mil e, segundo dados, o maior número depois da Segunda Guerra Mundial. Ao final de 2023, o Brasil já computava quase 30 atentados com vítimas fatais dentro de escolas ou relacionado às escolas. Boa parte do ano foi dedicado aos estudos e aos debates sobre como controlar a onda de violência, que, além dos campos de guerras, chegou aos campos de aprendizagens. A pacificação deverá ser a grande estrela central das práticas educativas em 2024. E só pra terminar alguns lembretes de violência dentro das escolas brasileiras, em 2023, uma grande escola do Rio de Janeiro teve que lidar com a violência mediada pela Inteligência Artificial. Alunos orquestraram uma onda de violência psicológica nunca
antes vista em uma unidade escolar. Somente com esses exemplos já podíamos concluir a urgência do tema pacificação das relações, mas há outros de calibre ainda maiores.
Diante da barbárie que atinge as relações sociais, as políticas e as humanas, a escola, como centro formador de pensamento, não se pode optar por outra ação que não seja a ação educativa para e paz e pela paz. Pais, professores e alunos precisam dialogar e encontrar um caminho rumo a essa pacificação. Nada de projetos formatados ou copiados. O que a sociedade precisa é fazer cada comunidade se envolver com seu próprio contexto. Em cada célula social há um mecanismo de combate e de controle da violência, em suas diferentes formas. Nenhum modelo de controle servirá a todos e da mesma forma. A intensidade de cada ação depende da legitimidade de cada elaboração.
O conhecimento para o futuro passa a depender da pacificação das relações, e isso vale tanto para as relações diplomáticas das nações como para relações de proximidade entre nós, pares, cidadãos e vizinhos. A tecnologia tão falada e tão esperada para a melhoria da vida do planeta passou a ser proibida em boa parte dos países do mundo dentro das escolas. Muitos países já concluíram que o uso delas nas relações escolares traz prejuízos e, no campo social, as tais redes sociais estão sendo atacadas em todo o mundo
na direção de marcos de controle, tamanha a situação problemática causada ou potencializada por elas. Em 2024, o mundo terá que selecionar aquilo que, de fato, queremos que permaneça ou cresça. É uma hora difícil para a humanidade de maneira geral. O aquecimento do clima em 2023 foi o último aviso da natureza. Ou mudem agora ou não terão mais chance. As guerras sem o menor controle onde o maior número das mortes basicamente foi de crianças e de famílias é uma trágica realidade. Assim sendo, a escola, diante de tudo isso, tem que fazer também suas escolhas: ou rompe com o que aí está ou segue sendo um mecanismo para perpetuar desigualdades.
Geraldo Peçanha de Almeida
Psicanalista e pedagogo