Fiorella Solares é diretora da Ação Social pela Música do Brasil (ASMB)Divulgação

Um relatório recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) trouxe um dado bastante preocupante e que nos faz questionar o futuro das gerações do nosso país. De acordo com o relatório, o Brasil, hoje, é a nação com a maior proporção de jovens (entre 18 e 24 anos) que não estudam e nem trabalham, o que representa 36% do total desta faixa etária.

Esse dado mostra que os nossos jovens precisam de apoio. Mais do que isso, eles precisam de oportunidades. Um outro estudo, feito pela Prefeitura do Rio e divulgado em outubro de 2023, apontou que 51% dos jovens (18 a 24 anos) que moram em comunidades na cidade estão desempregados.

Mais uma vez, faltam oportunidades. Sem educação, sem emprego, sem qualidade de vida e sem integração, a juventude nas comunidades, apesar de naturalmente criativa e tão cheia de potência, é posta à prova. À margem, estes jovens podem facilmente ser levados por caminhos tortuosos. A necessidade e a crescente criminalidade, especialmente no Rio de Janeiro, tornam-se uma porta para a marginalidade.

Durante 25 anos na direção da Ação Social pela Música do Brasil, mais de 14 mil jovens passaram pelo projeto e encontraram na música clássica e na arte uma saída. Uma verdadeira janela de oportunidade. A música clássica exige dedicação, disciplina e vontade de crescer. Os jovens que decidem conhecer ou seguir este caminho passam anos se aprimorando. Alguns seis, oito ou até dez anos ou mais de dedicação.

Atualmente, a ASMB tem 4.700 alunos em 13 núcleos de aprendizado musical e em 18 polos de musicalização. Essas crianças e jovens, em diferentes estágios de aprendizado, encontram apoio, encontram exemplos e encontram saídas ao aderirem ao projeto. Encontram o que mais precisam, oportunidades.

Em 2024, comemoramos os 10 anos da Orquestra Sinfônica Jovem do Rio de Janeiro, Orquestra que também é residente da PUC-Rio, o nosso principal grupo orquestral, que cumpre temporada anual de concertos em casas como o Theatro Municipal e a Cidade das Artes, gerando não apenas educação, mas também renda aos jovens integrantes.

Mas nem sempre eles se tornam músicos, alguns enveredam por outras profissões ao se depararem com novas possibilidades. No entanto, o que eles se tornam, de fato, são cidadãos. A educação transforma as suas realidades. Eles se disciplinam, se tornam pessoas de bem, porque, enfim, conseguiram uma chance. Isso é tudo o que eles precisam.

Apesar dos desafios, é possível enxergar o futuro a partir da atuação de projetos como a ASMB, inseridos dentro de comunidades periféricas pelo Brasil. Entende-se que estas comunidades necessitam de projetos que as desenvolvam socialmente, que proporcionem acesso à cultura e ensinem a ética do trabalho. Que substituam o imaginário das facções e da violência armada por uma experiência de integração e convivência harmoniosa e construtiva. E para que isso se concretize e que mais jovens possam ter acesso às oportunidades, é preciso ter vontade política e mobilização social.

As oportunidades não caem do céu, elas são criadas por quem um dia já precisou delas.
Fiorella Solares
Diretora da Ação Social pela Música do Brasil (ASMB)