Frase exibida durante o showReprodução

Rio - O deputado estadual Átila Nunes (MDB) e seu filho, o vereador Átila Nunes (PSD), denunciaram ao Ministério Público do Rio (MPRJ) a cantora Ludmilla por vilipêndio religioso. No documento, os parlamentares citam a frase "só Jesus expulsa o Tranca Rua das pessoas", exibida pela artista em telão durante apresentação no Estados Unidos.
De acordo com Nunes, o conteúdo promoveu e incitou a prática de preconceito religioso contra as religiões de matriz africana. Além disso, ressalta que Tranca Ruas é "uma grande entidade, que não atua para desviar, desagregar ou induzir qualquer ser humano ao erro, muito pelo contrário, são leais ao processo de aprendizado e evolução da humanidade em todos os sentidos".
Em suas redes sociais, a cantora afirmou que o vídeo apresentava a realidade da comunidade onde ela foi criado, marcada por mazelas como genocídio preto, violência policial, miséria e intolerância religiosa. Ludmilla ainda ressalta que a apresentação também mostrava trocas de tiro e ônibus incendiado, mas isso não significa que ela apoia essas condutas.
"No vídeo, tem tráfico de animais, gente sendo presa, gente entrando no ônibus pela janela... Eu apoio tudo isso? É um vídeo sobre tudo que eu apoio? Ou é só retrato da realidade? O vídeo era para ser uma denúncia, uma reclamação, e olha o que se tornou. Isso tudo para tentar apagar tudo que eu fiz nessas duas semanas? Isso tudo é para tentar pagar a história", questionou a cantora.
Além da denúncia ao MPRJ, Átila Nunes também prestou queixa contra a artista na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de forma on-line. De acordo com a Polícia Civil, a especializada aguarda o comparecimento do denunciante para formalizar o registro de ocorrência e apresentar mais informações. O deputado pede que o vídeo seja retirado de forma imediata de todas as redes sociais sob pena de multa diária em valor a ser arbitrado pelo Juízo competente. 
Nunes ainda requer uma indenização pecuniária a título de danos morais no valor de R$ 100 mil, que deverão ser repassados à Prefeitura do Rio para fins de realização de projeto social de prevenção ao preconceito religioso e fomento do respeito ao ensino religioso de matriz africana.
Pastor indiciado
O pastor Felippe Valadão, da Igreja da Lagoinha, foi indiciado no dia 16 pelo crime de intolerância religiosa durante um evento oficial da Prefeitura de Itaboraí, em maio de 2022. Na ocasião, o líder religioso ameaçou acabar com os terreiros de umbanda do município e "converter" os dirigentes dos centros espíritas da região. O caso também foi denunciado pelo deputado Átila Nunes.
"De ontem para hoje, tinha quatro despachos aqui na frente do palco. Avisa aí para esses 'endemoniados' de Itaboraí que o tempo da bagunça espiritual acabou. A igreja está na rua! A igreja está de pé! E ainda digo mais: prepara para ver muito centro de Umbanda sendo fechado na cidade", disse durante o discurso.
Durante as investigações, a Decradi ouviu diversas testemunhas, analisou o vídeo anexado ao inquérito e concluiu que não houve alteração em seu conteúdo. No relatório enviado ao MPRJ, a especializada disse se tratar de um caso de discriminação e afirma que ficou clara a prática de intolerância religiosa.
Segundo Valadão, ao afirmar que 'muitos centros de Umbanda seriam fechados naquela cidade' quis dizer que aquilo aconteceria porque as pessoas seriam convertidas e dessa forma seus templos seriam fechados pois não teriam mais razão de existir". O pastor ressaltou que jamais incitou a violência contra centros ou pessoas de religiões de matriz africana.
Após a apresentação de Valadão em comemoração aos 189 anos do município, a Prefeitura de Itaboraí informou que as declarações dos convidados e artistas para as apresentações são de inteira responsabilidade deles. O município destacou que governa para todos e reiterou que não apoia nenhum tipo de intolerância religiosa.