O ano de 2024 é um daqueles que já está mexendo com a vida dos brasileiros. Nos últimos 10 anos, a polarização política fez com que a corrida eleitoral se tornasse um clássico de futebol, com torcidas rivalizando de cada lado, defendendo seu ponto de vista ou ideologia. No entanto, mesmo com essa mudança de visão no espectro político, algumas práticas antigas na política ainda continuam desde os primórdios: a quantidade ínfima de mulheres nos espaços de tomadas de decisão é uma delas.

Um levantamento realizado pelo Instituto Alziras mostra que, mesmo as mulheres somando um total de 51% da população brasileira, elas governam apenas 12% dos municípios do país e quando fazemos o recorte racial, esse número cai ainda mais. Apenas 4% dos municípios são governados por mulheres negras, revelando um abismo racial entre homens, mulheres brancas e mulheres negras.

O Instituto Alziras ouviu 42% das prefeitas em exercício, incluindo eleitas ou que assumiram o cargo após mortes ou afastamento do titular, e outro dado interessante na pesquisa é em relação aos cargos ocupados por essas mulheres que estão no poder: 70% delas já ocuparam outros cargos de confiança como Secretárias em pasta como Educação, Saúde e Assistência social, apontando que este pode ser um caminho interessante de construção politica de novas lideranças. Mas percebemos que em grande maioria as secretarias ocupadas por essas mulheres eram voltadas para o “cuidado” com outras pessoas

São muitas as nuances que dificultam a vida da mulher na política e uma delas é a violência política de gênero, quando 58% das entrevistadas relataram já terem sofrido alguma forma de assédio ou violência política pelo fato de serem mulheres. Porém, apenas 50% das respondentes afirmaram que já registraram um boletim de ocorrência devido à violência sofrida. Das que não registraram, 40% não acredita na eficácia da apuração dessas denúncias, demonstrando descredibilidade das instituições competentes nas apurações dos casos de violência política de gênero e no encaminhamento que leve à justiça.

Um dado que chama a atenção e revela a natureza machista da política brasileira é que, dos 32 partidos políticos com representação no Congresso Nacional, apenas dois deles são presididos por mulheres (PT e MDB). Além disso, 46,2% dos filiados aos partidos são mulheres, mas só 18,2% do total de candidaturas eleitas são femininas, mostrando como ainda somos sub representadas também dentro dos partidos. Esse ponto é fundamental para a virada de chave da representatividade feminina, já que não temos candidaturas femininas competitivas, sem formação política e dinheiro sendo investido nessas campanhas, não teremos representatividade nas assembleias municipais.

Outro dado levantado pela pesquisa são as dificuldades impostas às mulheres na política. 47% delas relataram falta de recursos para campanha; 34% afirmaram que existe um desmerecimento de seu trabalho ou de suas falas; 26% sofreram algum tipo de assédio e violência em espaço político; 13% acredita que falta espaço na mídia em comparação com políticos homens; outros 13% creditaram a falta de apoio do partido e/ou base aliada como uma das dificuldades; e 12% delas indicaram uma sobrecarga de trabalho doméstico, dificultando a participação na política. Esses dados mostram como é necessário que essas mulheres que se oferecem para concorrer e ocupar cargos politicos precisam de apoio: do partido, da militância, das suas famílias e companheiros de partido.

A potencialização da comunicação via redes sociais ou aplicativos de mensagens fez com que a violência contra as mulheres aumentasse exponencialmente. 74% das entrevistadas afirmaram que, durante a campanha eleitoral de 2020, sofreram com a divulgação de informações falsas a seu respeito, as chamadas fake news. Além disso, 66% delas também sofreram com ofensas e discurso de ódio nas redes sociais.

Todos esses dados refletem uma sub-representação estrutural da política que não tem sido resolvida com os programas de ação afirmativa, como as cotas, nem com as recentes medidas de garantia de financiamento para candidaturas femininas. Sabemos que ainda há muitas candidaturas “laranjas”, que não são nem um pouco competitivas e que estão na rua apenas para cumprir a cota.

Sendo assim, para alcançarmos uma maior equidade nos espaços de poder, a partir da próxima eleição, a equação não é simples. A justiça eleitoral precisa fiscalizar os partidos. Os partidos precisam abrir espaço e investir nas lideranças femininas, para a construção de campanhas competitivas. E a nossa parte, enquanto eleitoras, é sem dúvida participar mais politicamente, apoiar as candidaturas e votar em mulheres.
E você, já está de olho em quem irá concorrer? Já se preparou para apoiar as mulheres da sua cidade a se eleger?
* Luka Borges, com formação em Administração com ênfase em Marketing e mestrado em Comunicação e Tecnologia, é especialista em Mobilização Digital e Construção de Comunidades