Pedro Duarte. Vereador (Novo)Divulgação

Todos os anos, a história se repete. Alagamentos, deslizamentos, perdas humanas e materiais... É como um filme a que assistimos mil vezes. Já sabemos o roteiro e o desenlace. Porém, como uma amnésia coletiva, vamos tocando a vida até o desastre do ano seguinte. Um ciclo vicioso do qual a cidade não consegue se
desvencilhar... Será uma maldição? Não! Há explicações racionais para essa tragédia anunciada.

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que, aqui, instalou-se uma cidade em função de um conjunto de características geográficas raras na costa do Brasil. Soma-se à Baía de Guanabara (porto natural com acesso estreito) um relevo topográfico com diversos morros, os quais facilitavam a defesa do território contra invasores. Mas as mesmas características que propiciaram a criação do Rio também são responsáveis
pela dificuldade de se lidar com a água que cai do céu. A chuva escorre dos morros, carregando sedimentos que se acumulam na região mais baixa do território, tornando extremamente complexa a gestão dos alagamentos.

E não é de hoje que essa crônica se repete. Os primeiros relatos nos chegam do século XVI, através do Padre Anchieta, e irão atravessar a história da cidade pelos séculos. Em 1811, por exemplo, o alagamento conhecido como "Águas do Monte" chega a derrubar parte do Morro do Castelo. No inquérito aberto então por D. João VI, uma das causas apontadas foi a "falta de conservação das valas e drenos pelos entulhos e lixos". Soa familiar?

Os agravantes também são mais do que conhecidos. Além das chuvas, cada vez mais intensas, o processo de urbanização recente subestimou questões de macrodrenagem da cidade, permitindo e até incentivando a impermeabilização do solo através de asfalto e concreto, desconsiderando áreas verdes que possam atuar
como bacias de retenção e infiltração. Nós, como população, também temos uma parcela dessa conta devido à ocupação descontrolada das encostas, promovendo o desmatamento da mata originária.

Temos que contabilizar ainda a parcela de culpa do Poder Público. Mesmo sabendo que a cidade alaga entre janeiro e abril, por que nada é feito para prevenir e mitigar todos os prejuízos materiais e de vidas humanas? A resposta é simples: as lideranças políticas estão sempre preocupadas com obras que "apareçam" visualmente para a população e que caibam em um mandato de quatro anos. Como as obras desse tipo (drenagem e prevenção) não "aparecem", são colocadas em segundo plano. Por outro lado, é importante um planejamento de longo prazo, porque as intervenções para implementarmos as soluções são caras e não são realizáveis em apenas quatro anos. Faz-se necessária ainda uma campanha de conscientização pública sobre o destino do lixo e uma revisão do sistema da gestão dos resíduos sólidos – descarte, transporte e reciclagem.

Com uma boa gestão, está claro que é possível construir uma cidade mais justa, segura, sustentável e com mais qualidade de vida. Basta que o Poder Público não somente adote uma visão sistêmica e de longo prazo, mas também seja responsável pela liderança, pela orientação do cidadão, pelo planejamento e execução das obras. Isso, sim, é compromisso com o futuro da cidade e da nossa população.
Pedro Duarte
Vereador (Novo)