Arrumando a caverna, remexendo um velho baú, eis que encontro um antigo tabuleiro de jogo de damas e um bloco com as folhas amareladas, de papel quadriculado, daqueles que usávamos para jogar batalha naval. Sim, esses games, de guerras navais supermodernos, disputados como vários jogadores, online, saíram literalmente do papel, e remontam ainda do início do século XX.
No lugar dos atuais navios de guerra incríveis, projetados em 3D, as embarcações eram representadas apenas por quadradinhos, tendo, o mais valioso - o couraçado - cinco quadradinhos, e o mais simples, o submarino, apenas um.
Fiquei tão animado com a descoberta, que esperei o primeiro a passar pelo meu portão, o Ibiapina, e dei a ideia: e se fizéssemos um torneio?
- Deixa que eu trago as cervejas! E já falo com o Nelson, que encontrei passando pelo açougue para comprar fraldinha.
Enquanto via o parceiro, seguindo animado pela rua para cumprir sua parte no acordo, pensei: Deve haver outros mais. Vou garimpar!
Acho que guardamos coisas velhas em caixotes para, no futuro, ajudar a lembrar o passado.
E foi remexendo novamente aquele baú que encontrei a gravata manchada de batom. Divina esbórnia!
Céus, exclamei. Que lembrança...
1970! Lembro que a noite começou com Gardel, naquela boate no Centro. Maldita gravata!
Aí surgiu a dúvida cruel: guardo ou queimo?
Quando mencionamos o passado, gostamos de só falar sobre nossas vitórias.
Bolas! E as derrotas? Esquecemos ou apagamos?
Queimar o passado é um gesto extremamente triste. Não vou queimar. Afinal, todos nós temos uma história.
O fato é que o passado não perdoa. E a saudade, por vezes, mata a gente.
Já fui santo, pecador, julgador e até espectador. Hoje sou testemunha e aguardo o juízo final!
Sei que vão aparecer críticas, perguntas difíceis de responder.
Vou encarar a verdade com meu melhor sorriso discreto. Às perguntas, darei a resposta padrão: “o silêncio é o meu pastor”.
Sim, mas o baú é o meu flagrante!
Pensando bem, é melhor jogar essa memória fora e aproveitar o baú para as guardar as próximas!