Por karilayn.areias

Rio - Nada de modernas arenas esportivas, revitalização em áreas históricas ou novas alternativas de meio de transporte para desafogar o trânsito. Para os empreendedores e moradores das comunidades cariocas, o legado olímpico é a inclusão definitiva das favelas no roteiro turístico do Rio. De carona na Olimpíada, comunidades cariocas tiveram uma programação em meio aos Jogos, incluindo hospedagem, alimentação em restaurantes, visitas guiadas com atrações culturais e até a presença de medalhistas olímpicos de outros países. Agora, o objetivo é iniciar uma campanha na internet de crowdfunding, o chamado financiamento colaborativo, para arrecadar R$ 15 mil com investidores interessados no crescimento de projetos ligados ao turismo de favela.

O projeto ‘Favelidade’ ajudou a atrair muitos turistas estrangeiros às comunidades do Morro do Vidigal durante os Jogos Olímpicos do RioDivulgação

Enquanto acompanhavam o maior evento esportivo do planeta, turistas de todos os lugares do mundo tinham atrativos além do Corcovado, Pão-de-Açúcar e praias da Zona Sul, que estampam os cartões postais do Rio. Uma programação alternativa idealizada pelo Favela Experience, empresa especializada no turismo em favelas, levou mais de 400 estrangeiros a nove comunidades durante os Jogos. O impacto econômico foi estimado de R$ 100 mil, gerando cerca de 70 empregos diretos e indiretos. Um evento que movimentou restaurantes, transporte local, guias da comunidade, ONGs e artistas. É o projeto ‘Favelidade’, criado às vésperas da Olimpíada e que tirou proveito da presença da imprensa estrangeira para ganhar visibilidade.

Teve telão para acompanhar a cerimônia de abertura na Favela do Vidigal, na Zona Sul. Em um tour pela comunidade, atores do grupo ‘BecoAr’ faziam intervenções sobre imigração em diversas regiões do país e até sobre o processo de pacificação na capital fluminense. Alguns desses artistas são remanescentes do ‘Nós do Morro’. E até o ouro olímpico reluziu na favela, com a presença dos ex-remadores canadenses Adam Kreek e Kevin Light, medalhistas na Olimpíada de Londres, em 2012. A festa de encerramento foi na Rocinha, com direito a funk e churrasquinho na laje.

 ‘Favelidade’ foi retratado em reportagens de seis veículos de comunicação em quatro países diferentes. O principal deles foi o Olympic Broadcasting Services, canal oficial da Olimpíada, que reproduzia matérias jornalísticas de TV no intervalo entre a transmissão das modalidades esportivas em 220 países. “Isso deu visibilidade para os nossos projetos. No futuro, essa visibilidade vai nos ajudar a aumentar o nosso público”, avalia o americano Adam Newman, diretor-executivo do Favela Experience. 

Americano%2C Adam Newman é diretor-executivo do Favela ExperienceDivulgação

Parcerias com estrangeiros

O Favelidade ainda contou com a parceria dos ministérios do Turismo e do Meio Ambiente e do Passaporte Verde, iniciativa que promove roteiros autênticos em parceria com as Nações Unidas. A ideia agora é apostar em parcerias com investidores de outros países. A iniciativa busca também a expansão de projetos, como o Todos na Luta, escola de boxe que revelou o pugilista olímpico Patrick Lourenço. 

Americano é autor do projeto

Quem coordena o ‘Favelidade’ não é nascido nem criado na favela. Mas trouxe o olhar de fora para colocar as comunidades no roteiro turístico. Formado em empreendedorismo na Arizona State University, o americano Adam Newman comprou passagem só de ida ao Rio há quatro anos.

Hoje, é diretor-executivo do Favela Experience e dirige um hostel no Vidigal, onde mora, com vista para o mar e para a Pedra da Gávea. O grupo também desenvolve uma iniciativa envolvendo hospedagem domiciliar, com aluguel de quartos na casa dos próprios moradores.

Adam criou uma rede de serviços e contatos no Vidigal, usando como ferramentas as redes sociais e a internet. A página Favela Experience no facebook tem 2,6 mil curtidas. O empreendimento também tem site próprio e perfil no Trip Advisor, um site que cadastra opções de hospedagens. E 40% dos lucros ficam com uma ONG que desenvolve projetos sociais com crianças da comunidade, com aulas de taekwondo, inglês, balé, futebol e educação para inserir jovens no mercado de trabalho.

O Favela Experience tem uma rede de relações com guias turísticos de outras nove comunidades que integram o roteiro das favelas. “Essa experiência é para quebrar preconceitos e ajudar no desenvolvimento local de pessoas de baixa renda. Buscamos alternativas para sustentar o desenvolvimento”, explica o gringo que se tornou morador do Vidigal.

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