Fila dos fãs do Bruno Mars formada no Engenhão para comprar ingressos, nesta quarta-feira (08).Reginaldo Pimenta

Rio - A Prefeitura do Rio suspendeu oficialmente, nesta quinta-feira (9), os shows do cantor Bruno Mars na cidade por causa dos preparativos para as Eleições 2024. A decisão ocorreu um dia após fãs enfrentarem mais de 14 horas de filas gigantescas para compra de ingressos. Para a estudante de 21 anos, Clara Glitz, o aviso de suspensão logo depois das vendas esgotarem é um verdadeiro descaso com os fãs.

"Isso tinha que ter sido exposto ao público! A gente vai receber nosso dinheiro de volta, ok, mas o que fã tem a ver com o acordo entre a prefeitura e a produtora? Agora estamos pagando por isso, porque foi a gente que ficou na fila, no calor, que se estressou, que comemorou que conseguiu o ingresso e agora vão tirar isso da gente. É o maior descaso com o fã!", disse Clara.
Ao DIA, Clara Glitz explicou que comemoraria seu aniversário no evento e que está frustada com toda situação. "O Rio sempre recebe shows nos meses de setembro e outubro, então virou quase uma tradição pra mim curti meu aniversário em algum evento e show é uma coisa que eu gosto muito. Então foi muito especial descobrir que o Bruno Mars viria justamente no dia do meu aniversário. Agora foi muito frustrante perder esse super presente, até porque já estava me vendo cercada dos meus amigos ao som do Bruninho", lamentou.
A estudante acredita que o público deveria ter sido avisado dos conflitos entre a organizadora e a prefeitura com antecedência. "Foi uma grande quebra de expectativa, mas em relação ao problema, o maior erro foi da produtora que não soube respeitar o aval da prefeitura. Eu só não entendo como isso demorou tanto para ser exposto, esperaram acontecer a pré venda, a venda geral e a lançar novas datas. Acho que o público deveria saber desde o início que aí a gente assumiria esse risco. Eu acho que o Eduardo Paes deveria ter explicado isso antes e deixar a gente ciente", disse.
Outra fã que também revela grande frustração é a estudante Cláudia Austin, 28 anos. Ela e a prima saíram de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, ainda na madrugada para comprar o ingresso na bilheteria e enfrentaram cerca de 9 horas de fila.
"Como uma empresa desse tamanho vende um evento ao qual não foi liberado? Eu saí de casa 3h e pouca da manhã para enfrentar fila na pré-venda, acabei me colocando em risco por uma opção minha, pois sei que o sistema do site é horrível para compra. Fiz meu pai me encontrar na fila preferencial, pois ele é idoso", contou.
Cláudia é fã do Bruno há cerca de 10 anos e explica que o mais revoltante é o desencontro de informações. "Foram 9h em fila, no sol. A produção diz uma coisa, a prefeitura diz outra. Aí veio essa história de cancelar as vendas e estornar o valor. Sendo que estorno de cartão de crédito é uma dor de cabeça sem fim, para no final resolverem a data. Estou aqui aguardando uma posição", disse.
A prima de Cláudia, Victória Bernardo da Silva, 18 anos, revelou que tinha o sonho de ir em um show do Bruno Mars. "Eu nem consegui processar tudo ainda. Depois de tanto tempo esperando para conseguir o ingresso, para no final cancelarem. Espero do fundo do meu coração que eles pelo menos adiem para uma data próxima. Sair de um lugar longe e de madrugada para conseguir o ingresso não é nada fácil", desabafou.
A administradora Anna Tito, 25 anos, é outra fã que estava esperançosa para assistir o ídolo. Ao DIA, ela explicou que tenta ir aos shows desde 2012, e que ao ver o anúncio do evento no Rio, criou uma série de expectativas.

"Eu comprei o meu ingresso pelo site. Tentei na pré-venda, mas nem da fila consegui sair, com poucos minutos já estavam esgotados todos os ingressos, então deixei para tentar quando abrisse para o público geral. Na quarta-feira eu estava confiante, coloquei todos os meus amigos, meu namorado e familiares para entrar nessa loucura comigo, para que eu conseguisse realizar esse desejo. Com 10 minutos de fila consegui e eu pude comprar o ingresso, fiquei super feliz, emocionada e realizada porque depois de anos eu finalmente consegui ter a oportunidade de ir ao show que eu tanto desejei", contou.

Anna disse que passou o dia ainda desacreditada que tinha conseguido e que ao ver a notícia da suspensão ficou sem reação e muito decepcionada. "E agora? Nós (os fãs) ficamos bem chateados, com medo, principalmente, depois de ter passado todo aquele caos no site e ver tudo que o pessoal passou no presencial. Ficamos chateados e super decepcionados pela falta de respeito dos organizadores do evento. Tem muita gente de outros estados que precisam se organizar com antecedência para comprar as passagens e hospedagens", complementou.

Por fim, a administradora reforçou que esperava mais da gestão municipal. "Como prefeito, até entendemos, mas não achamos legal a atitude dele para com o cidadão, que mesmo vendo tudo, não impediu as vendas ou avisou as pessoas que não era para realizar a comprar por motivos de liberação por conta da eleição. Nós não sabíamos e compramos. Nós achamos que estava tudo certinho, até porque um evento deste tamanho não é resolvido em dias, são meses até a sua realização", reforçou.

Assim como os demais fãs, Anna espera que a situação seja resolvida e que novas datas sejam divulgadas. "Nós só queremos curtir o show com tudo certo e com segurança!", disse.

As apresentações ocorreriam nos dias 4 e 5 de outubro no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, na Zona Norte. Todos os ingressos para o primeiro dia foram esgotados. A venda online durou menos de uma hora.
Entenda a suspensão

De acordo com o prefeito Eduardo Paes, o processo eleitoral exige uma mobilização muito grande de servidores para acontecer e também mencionou a necessidade de contar com efetivos da Polícia Militar e Guarda Municipal para as eleições

"Imaginar que vai se fazer qualquer grande evento no Rio de Janeiro (diria até que no Brasil) às vésperas das eleições é absurdo pela necessidade de mobilização de uma grande quantidade desses mesmos agentes públicos", disse.
Após o anúncio do prefeito,  a organizadora Live Nation disse, na manhã desta quinta-feira (9), que vai adiar a venda de ingressos do segundo dia. No entanto, não informou novas datas para o primeiro show.
"Trabalharemos em estreita colaboração com o gabinete do prefeito para encontrar uma solução para os fãs. Todas as informações de pré-venda e venda serão divulgadas em breve junto com atualizações sobre as datas do evento", disse a organização.

Em nota, o Tribunal de Justiça Eleitoral agradeceu ao apoio da Prefeitura do Rio e reforçou que realização das eleições demanda ampla mobilização das forças de segurança, de diferentes perfis e especialidades, que atuam de modo integrado.

"Uma participação que não se restringe à desafiadora proteção dos mais de cinco mil locais de votação espalhados pelo estado, onde estão cerca de 30 mil seções eleitorais e votam quase 13 milhões de eleitores fluminenses. A atuação começa bem antes do dia de votação e envolve a proteção de polos e centros de distribuição, a escolta e a própria logística de entrega dos aparelhos", disse em nota.

Apesar disso, a Justiça Eleitoral fluminense reconheceu a importância da cultura e o impacto dos eventos na economia de uma cidade com notável vocação turística. "O que não é possível é permitir que qualquer atividade prejudique o interesse e o espírito públicos. Especialmente, em um momento no qual todas as escolhas estão voltadas para o efetivo exercício da cidadania", disse.