Thiago Flausino de 13 anos, morreu depois de ser baleado em uma operação na Cidade de DeusRede Social

Rio - Os quatro policiais militares acusados pela morte do adolescente Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, na Cidade de Deus, na Zona Oeste, voltaram a ser presos nesta terça-feira (7). A ação ocorreu há exatos nove meses após o jovem ser baleado durante uma operação na comunidade.
Os agentes Roni Cordeiro de Lima, Diego Pereira Leal, Aslan Wagner Ribeiro de Faria e Silvio Gomes dos Santos foram denunciados, no dia 09 de abril, pelo Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), pelo crime de homicídio. Os mandados foram expedidos pelo Juízo da 2ª Vara Criminal da Capital (Tribunal do Júri). 
Segundo a Polícia Militar, após decisão judicial, os quatro agentes se apresentaram voluntariamente e foram conduzidos à Unidade Prisional da corporação, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, onde permanecem presos. "A corporação segue colaborando integralmente com as investigações e os demais trâmites na Justiça", disse em nota.

Nas redes sociais, a mãe do rapaz comemorou a decisão. "A esperança é minha força! Justiça por Thiago! Essas ações de policiais assassinos não podem se normalizar. Nossas crianças tem que ter o direito de viver. Parem de matar nossos filhos!", disse.

Mais cedo, antes da prisão dos policiais, amigos lamentaram a morte que aconteceu em 7 de agosto do ano passado, a mãe, inclusive, havia feito um apelo por Justiça. "Nove meses que esses policiais fizeram essa crueldade com meu filho, minha luta é para que nenhum familia passe pelo que eu estou passando, meu filho foi assassinado em cima de uma moto, foi executado por 3 tiros de fuzil, e isso não pode mais acontecer", contou.
De acordo com denúncia do MPRJ, as condutas dos PMs foram praticadas no contexto de uma operação policial ilegal. Segundo as investigações, no dia do crime, na Estrada Miguel Salazar Mendes de Moraes, esquina com a Rua Jeremias, na entrada da comunidade Cidade de Deus, em Jacarepaguá, os PMs "efetuaram, conjuntamente, diversos disparos de arma de fogo contra a vítima de apenas 13 anos de idade".
Para a Promotoria de Justiça o crime foi cometido por motivo torpe, "certo que os denunciados agiram visando à prática de operação ilegal conhecida vulgarmente como 'Tróia', usando para tal um veículo particular". A decisão descreve ainda que os disparos foram praticados mediante recurso que dificultou a defesa das vítimas, uma vez que os denunciados estavam em um veículo particular, "com insulfilm, e, ao abordarem as vítimas efetuaram os disparos de arma de fogo". E, por fim, que os crimes foram praticados com a utilização de armas de alta energia, de uso restrito, conhecidas como fuzil.
Em 06 de setembro de 2023, os policiais já haviam sido presos preventivamente  depois de serem denunciados pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) pelo crime de fraude, pois, segundo a investigação, eles apresentaram uma pistola e munições atribuídas à vítima, indicando que o jovem estaria armado. No entanto, no fim do mesmo mês a Justiça determinou a soltura dos policiais que permaneceram cumprindo medidas cautelares.

Relembre o caso
T.M.F, de 13 anos, morreu depois de ser baleado por policiais do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) durante uma operação, na madrugada do dia 7 de agosto, na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio. Segundo o pintor Hamilton Menezes, tio do rapaz, a família teve acesso a uma câmera de segurança da região, cujas imagens mostrariam o momento em que um agente atira contra o jovem.
"Ele estava passeando de moto com um amigo em uma das ruas da Cidade de Deus, onde foram abordados já a tiros. Uma bala pegou na perna do jovem e ele caiu. [Pelas imagens], dá para ver o T. M F. no chão, ainda vivo, e o policial vai lá e acaba de executar", disse.
Um dia depois da morte do jovem, a PM retirou do ar uma postagem que criminalizava o menino. A exclusão aconteceu após a Defensoria Pública do Rio (DPRJ) entrar com uma ação judicial. Segundo a PM, a postagem no Twitter oficial da corporação é feita a partir das informações preliminares passadas pelos policiais que participaram da ação.
No entanto, o comando da corporação decidiu retirar a publicação, pois entendeu que o caso está sob análise e investigação. O post, feito às 5h44 do dia 7 de agosto e afirmava que "um criminoso [havia ficado] ferido ao entrar em confronto". Mais de um milhão de pessoas viram a postagem.
Em agosto, a Corregedoria da PM indiciou os policiais envolvidos na ação. A investigação apurou que houve fraude processual, omissão de socorro e abuso de autoridade. O inquérito apontou que os agentes omitiram o socorro do menino e divulgaram informações incompletas "por livre e espontânea vontade" para atrapalhar a investigação sobre o caso. Na decisão, a Corregedoria destacou que, se os policiais ficassem soltos, eles seriam capazes de apagar evidências do crime e pressionar testemunhas.

A investigação descobriu que os PMs usaram um carro descaracterizado durante a ação. O veículo era de um dos policiais. O fato foi relatado por familiares da vítima que conseguiram imagens de uma câmera que gravou uma perseguição entre o carro e a moto onde o menino estava na carona.