Por gustavo.ribeiro

RIO - Um adolescente autista de 13 anos, estudante da rede municipal de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, pode ter sido mais uma vítima do jogo criminoso Baleia Azul. Educadores do colégio tomaram um susto ao verificar que o aluno do 6º ano do Ensino Fundamental chegou à escola com cortes nos dois braços na tarde desta quarta-feira. Em conversa com a equipe pedagógica, o menino revelou ter participado dos desafios do game, que tem induzido crianças e adolescentes ao suicídio no Brasil e no mundo.

"Ele chegou com os dois bracinhos todos cortados na escola. Os profissionais do colégio acharam aquilo muito estranho. Quase todo mundo já estava sabendo da situação desse jogo, e aquilo surpreendeu a professora e a equipe da direção, que tão logo que percebeu aquilo retirou o aluno da sala e chamou seu responsável", explicou a secretária municipal de Educação de Duque de Caxias, Marise Moreira Ribeiro. 

Polícia Civil abriu investigação para identificar origem%2C no Rio%2C do jogo que preocupa os paisReprodução

O estudante relatou ter assistido, em sua casa, a um vídeo em uma rede social que sugere práticas de violência e automutilação. A  Secretaria encaminhou o caso ao Conselho Tutelar. O adolescente foi atendido em uma unidade de saúde do município e passa bem. Ele também será encaminhado ao Centro de Atenção Psicosocial Infanto Juvenil. A pasta informou que está monitorando o caso, aguardando a confirmação dos fatos e orientando toda a rede municipal em relação a outras prováveis evidências. 

"Estamos adotando as medidas cabíveis para garantir a preservação dessa criança, que requer cuidados especiais. Estamos divulgando informações sobre o caso para os gestores de todas as nossas unidades escolares, para que eles estejam alertas em observar possíveis situações como essa", acrescentou a secretária.

Marise comentou que a Secretaria de Educação já estava preparando um comunicado para recomendar aos gestores escolares a ficarem alertas, tendo em vista a repercussão na imprensa em relação às investigações sobre o jogo suicida no Brasil. "A gente ouviu falar de um caso em Curitiba. Estamos vendo algumas autoridades se mobilizando, mas não imaginávamos que o problema estaria tão perto da gente e acontecendo tão rápido", afirmou.

Delegacia investiga autoria

Como O DIA publicou, a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) abriu inquérito para investigar o aliciamento de crianças e adolescentes por organizadores do jogo no Rio. O Baleia Azul teria surgido na Rússia em 2015 e foi relacionado ao suicídio de mais de 100 jovens desde então no país. Segundo a delegada Fernanda Fernandes, aliciadores geralmente convidam as vítimas para participar por meio de redes sociais. O game consiste em 50 desafios macabros, que obrigam os menores a se machucarem. O último desafio, no 50º dia, é atentar contra a própria vida.

De acordo com a delegada, a maioria das vítimas tem tendência à depressão. “Há relatos de que há uma coação para as vítimas não desistirem do jogo. Os relatos são de pressão psicológica mesmo, de que se a vítima não se matar, ela vai ser morta de qualquer jeito, ou então eles ameaçam parentes próximos. Enfim, há toda uma coação para convencer a vítima a entrar e não sair”, explicou Fernanda Fernandes no início desta semana.

Na terça-feira, a delegada confirmou os casos de duas adolescentes de 14 anos que tentaram se suicidar após participarem dos desafios online. Uma delas é da capital e outra, do interior. Até ontem à noite, o caso do estudante de Duque de Caxias não tinha sido registrado na DRCI nem na 59ª DP (delegacia local).

Pais devem ficar atentos

Ontem, a delegada Fernanda Fernandes informou que deve ouvir nesta quinta-feira depoimentos de mais dois casos suspeitos de envonvimento com o jogo: o de uma menina que tentou suicídio, sem idade confirmada, e o de um menino de 12 anos, ambos do Rio. A DRCI também começou a rastrear 5 mil pedidos de participação em um grupo do Facebook chamado 'Baleia'. Esse grupo é, na verdade, voltado ao apoio de pessoas acima do peso, mas acabou sendo confundido por pessoas interessadas em participar dos desafios macabros.

"A divulgação desses casos tem surtido efeito. Os pais estão prestando mais atenção a seus filhos e têm denunciado", afirmou a delegada ontem. A polícia continua monitorando as redes sociais a fim de evitar que outros jovens caiam no esquema e de buscar a autoria dos crimes. 

Os ‘curadores’ são como se chamam os que passam instruções do ‘Baleia Azul’ por Facebook, WhatsApp e SMS. Segundo a delegada Fernanda Fernandes, eles podem responder por associação criminosa e até homicídio. 

COMUNICADO DISTRIBUÍDO ÀS ESCOLAS MUNICIPAIS DE DUQUE DE CAXIAS:

Prezados Diretores e Equipes Diretivas,

Vimos por meio deste, orientar a todos a respeito de um tema que já esta presente em nossas casas, pátios e salas de aula, com toque de urgência.

De forma alguma podemos tratar este assunto com descaso, o fato é que jamais acreditamos que ele esteja tão perto.

O QUE É?

É o jogo Baleia Azul “Blue Whale”. A “brincadeira” que aparentemente é inocente e não desperta a nossa atenção inicialmente, começa com um convite pelas redes sociais e funciona sob forma de orientação de desafios a serem seguidos pela criança e/ou adolescente, por telefone ou pela internet.

O jogo já está por trás de várias mortes ao redor do mundo. Os participantes envolvidos, espontaneamente ou não, fazem um pacto com o “curador”. A partir de então são induzidos a cumprir todos os 50 passos aterrorizantes e que pode ter um desfecho fatal.

Os desafios vão desde metas simples às mais completas e graves, propondo ações audaciosas e de grande risco, diariamente. O primeiro passo é a automutilação e o ultimo é a orientação do sujeito a cometer suicídio.

O QUE FAZER?

A Secretaria Municipal de Educação está orientando às Unidades Escolares, a respeito da observação e do cuidado com todos os alunos da Rede Municipal de Ensino, tendo em vista os comentários sobre este jogo.

Havendo a possibilidade do envolvimento dos nossos alunos, deverão ser adotados os seguintes procedimentos após a detecção da situação:

1. Encaminhamento do aluno à Equipe Técnico Pedagógica e Educacional;

2. Contato com a família para atuação e parceria com a escola;

3. Encaminhamento do fato a SME e ao Conselho Tutelar;

4. Manter a discrição do assunto com o objetivo de preservar o estudante;

5. Acompanhar e orientar a família ao Sistema Único de Saúde.

Estamos a inteira disposição para maiores orientações e esclarecimentos.

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