Por gabriela.mattos
Rio - A boa relação entre o empresário Eike Batista e o ex-governador Sérgio Cabral, acusado de comandar a organização criminosa investigada pela Justiça, não é nova. Eike foi a principal pessoa física a doar para a campanha de Cabral à reeleição, em 2010, quando forneceu R$ 750 mil ao peemedebista. Por outro lado, empresas do Grupo EBX, de Eike, receberam cerca de R$ 80 milhões em benefícios fiscais de 2007 a 2011, período que abarca quase toda a gestão de Cabral.
A OGX, de petróleo, e a LLX Minas-Rio, de obras portuárias, receberam, respectivamente, R$ 69 milhões e R$ 6 milhões de benefícios de 2007 a 2011. Quando os dados foram divulgados, na época, o Grupo EBX defendeu-se dizendo que os benefícios eram “idênticos aos disponíveis para qualquer empresa que se disponha a correr os riscos de empreender projetos semelhantes”.
Eike é acusado de pagar R%24 52 milhões a Cabral%2C que faz 54 anos hoje%2C mas motivo ainda é um mistérioMarcos Porto / AgNews

Em 2011, os benefícios foram criticados por parlamentares de oposição na Alerj, que cobram até hoje uma investigação mais profunda das isenções fiscais — especialmente depois que o estado entrou na profunda crise financeira em que se encontra. “Em função desse quadro caótico das finanças, é urgente ir fundo nessas questões que envolvem benefícios fiscais, dados sem controle, sem contrapartida, sem monitoramento e sem avaliação. Até mesmo para que se possa saber se valeu a pena ou não”, aponta o deputado Eliomar Coelho (Psol).

No começo deste mês, o jornal ‘Folha de S. Paulo’ mostrou que a Operação Calicute, responsável pela prisão de Cabral e de outros envolvidos na suposta organização criminosa, registrou que o ex-governador e a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo voaram 13 vezes em jatos particulares do empresário.

Sérgio Cabral foi preso pela Operação CalicuteReprodução Internet

O empresário já havia sido citado na Operação Calicute por um repasse de R$ 1 milhão feito pela EBX para o escritório da ex-primeira dama Adriana Ancelmo, que participava, segundo os procuradores, do esquema de lavagem de dinheiro da organização criminosa. Ela está presa preventivamente.

Os procuradores acusam Eike de ter mentido em depoimento ao dizer que o pagamento fora recomendado pela Caixa Econômica Federal quando feito um Fundo de Investimentos e Participações com sua empresa REX. O escritório ficaria responsável, segundo a versão do empresário, por serviços que não cabiam ao banco. A versão foi refutada pela Caixa, que disse jamais ter indicado o escritório de Adriana Ancelmo.

Eike Batista está na lista da InterpolArquivo

Da lista da Forbes à de procurados

Em 2012, Eike Batista era o homem mais rico do Brasil e apareceu na lista da revista Forbes, referência de ‘celebridades financeiras’, na oitava posição entre os maiores bilionários do mundo. Com carreira iniciada na mineração, o empresário acumulou fortuna com o lançamento de ações da empresa de exploração de petróleo OGX — que entrou em recuperação judicial a partir de 2013. A crise de suas empresas fez Eike despencar nas listas de homens mais ricos. Ano passado, ele chegou a supostamente se converter em uma igreja da Assembleia de Deus em Rocha Miranda. Outra imagem inusitada mostrou Eike comprando sorvete de casquinha em lanchonete de fast food.

Propina pagou, em 2017, curso em Nova York

Um dos investigados tinha um carro esportivo LamborghiniDivulgação

O dinheiro do esquema de propina do grupo do ex-governador era usado para pagar, até uma semana atrás, despesa com curso de cinema na New York Film Academy para o filho mais velho do ex-assessor de Cabral e “homem da mala”, Carlos Miranda, preso desde novembro. É o que está no pedido de prisão de Eike Batista pelo MPF, que, no entanto, não detalha como Lucas, o filho de Miranda, pediu aos operadores para efetuarem o pagamento.

Documentos entregues pelos operadores do mercado financeiro, os irmãos Renato e Marcelo Chebar, revelam que Lucas e a namorada Iasmine Bon tiveram pagamentos de US$ 23 mil à faculdade com dinheiro da conta Andrews Development, nas Bahamas, uma das nove usadas para a propina, segundo o MPF.