Por adriano.araujo

Rio - Apesar do pouco tempo que X, Y e Z se conhecem, os três adolescentes têm muito mais em comum do que qualquer um deles poderia prever. Além de moradores de morros margeados pelos trilhos dos trens, todos foram de uma forma ou de outra influenciados pela criminalidade e cumprem medidas socioeducativas em uma instituição parceira da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, SMDS.

Desde março, o órgão implementou uma nova metodologia, o Passo a Passo, que já beneficiou 60 menores infratores que cumprem medidas em sistema aberto. A diferença principal está no desenvolvimento de potencialidades, o que não acontecia antes. “A percepção que criminalizar o jovem sem apresentar nenhuma alternativa a sua realidade não muda trajetórias de vida”, afirma o secretário, Adilson Pires. “O jovem precisa experimentar outras coisas, ser exposto a outras rotinas e perceber valor nas oportunidades que são oferecidas”, acredita.

Os menores do programa Passo a Passo participam de passeios e recebem orientações de mentoresMaíra Coelho / Agência O Dia

X sabe bem ao que Pires se refere. Morador da Providência, o jovem de 16 anos já foi apreendido quatro vezes, por tráfico de entorpecentes. “Me chamavam para ganhar dinheiro, não podia negar”, relembra. “Minha mãe falava para eu não ir, mas eu ia.”

Potencialidades

Hoje, X jura que seu objetivo é outro, bem longe do ‘poder paralelo’. “Quero ser bombeiro”, diz ele. Segundo Gabrielle Farofalo, tutora dos meninos, esta é uma das diferenças do novo modelo de ressocialização que vem sendo implementado pela SMDS. “Vemos a potencialidade de cada um, para incentivá-los”, diz ela. “X fará um treinamento nos bombeiros, através do programa”, conta.

Apesar de trabalhar, estudar e fazer cursos, Y, de 17 anos começou a roubar influenciado por amigos. “Fui pego com cinco cordões, nem sei por que eu assaltava, eu tinha meu trabalho”, repensa. “Quando penso na minha mãe chorando na delegacia e de todo mundo no morro me olhando como se eu fosse o pior dos bandidos, fico tristão”, lembra. “Nunca mais vou fazer isso”, garante.

Já Z, de 18 anos, garante ter sido apreendido injustamente. “Eu estava na praia com meu primo e os policiais chegaram nos batendo, depois veio um gringo e disse que a gente tinha roubado”, conta Z. “Não acharam nada com a gente, mesmo assim fomos condenados.” A culpa, ele põe no estereótipo de que “todo morador de favela sem camisa é bandido”.

Gabrielle diz que a SMDS tem feito parcerias em diversas áreas para que os jovens possam cumprir suas medidas em locais que sejam interessantes para eles. O próprio trabalho que Gabrielle tem feito é uma novidade. Ela aconselha, acompanha e orienta os meninos, que passam de seis a oito horas por semana em atividades do programa. Além de acompanhá-los a passeios. “Eles acham que não podem ir a um circo, a um museu, e nós mostramos que a cidade também é deles.”

Rio tem 14 centros para 856 jovens

Atualmente 856 menores cumprem medida socioeducativa nos 14 Centros de Referência Especializado em Assistência Social, Creas, do município. Mensalmente, a SMDS recebe cerca de 70 jovens para cumprimento de medidas socioeducativas em regime aberto na rede da prefeitura. Segundo o órgão, todos estão matriculados na rede regular de ensino. 

A nova metodologia conta com dez mentores para cerca de 60 adolescentes - por mês - e 200 vagas nas áreas de lazer (49%) e formação (51%), e subdivididas em áreas relacionadas como cultura (34%), esporte (14%), formação profissional (31%), Acesso ao Trabalho e renda (12%), assistência Social (7%) e acesso à Cidade (1%).

Com o apoio dos tutores, os jovens são estimulados a participar de projetos de capacitação junto a parceiros como o Circo Crescer e Viver, o Ministério Público do Trabalho, UniCirco e Agência Redes de Juventude. Além de terem acesso a vagas nos programas Jovem Aprendiz.

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