Por daniela.lima

Rio - A comerciante Alila Pereira, de 29 anos, tenta esquecer o pesadelo da noite do dia 10 de janeiro deste ano. Ela passou mal depois de comer estrogonofe de camarão num shopping de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. No dia 9 de abril, a empresária Jane Lima, 57, dona do Cheff Restaurantes, em Volta Redonda, no Sul Fluminense, foi presa, depois de ser flagrada catando restos de alimentos de um supermercado, para depois servi-los em seu estabelecimento. Escândalos como esses passaram a fazer parte com mais frequência do cardápio em muitos restaurantes do estado. 

De acordo com o superintendente da Vigilância Sanitária Municipal do Rio, Luiz Carlos Coutinho, só na capital carioca, pelo menos cem restaurantes e lanchonetes têm sido fechados mensalmente (três por dia, em média) para se adequar às exigências da saúde pública.

Mau acondicionamento de carnes é uma das principais irregularidades encontradas por fiscais do Procon em restaurantes do estadoBruno de Lima / Agência O Dia

Cerca de 600 multas por mês — ou 20 a cada 24 horas — são emitidas por irregularidades em documentos, má qualidade da comida e higiene de uma forma geral. O Rio possui cerca de seis mil estabelecimentos, contando os bares que também servem refeições.

“Com a aproximação dos Jogos Olímpicos e do Rock in Rio, estamos apertando o cerco. Nossa preocupação também é com os trabalhadores que dependem desse tipo de comércio”, justifica Coutinho, ressaltando que os números atuais representam o dobro de ações em comparação ao que era registrado nhá cinco anos.

Junto com o Procon estadual, a Vigilância Sanitária já inutilizou mais de 13 toneladas de alimentos impróprios, a maioria, carne, somente este ano. No rol das irregularidades, estão a armazenagem de produtos sem data de fabricação ou vencidos, além de muitos quilos de comida estragada.

Segundo o diretor de Fiscalização do Procon-RJ, Fábio Domingos, o órgão recebe todos os dias em torno de 140 denúncias contra restaurantes e lanchonetes pelo Disque 151 ou pelo e-mail cat151@procon.rj.gov.br.

Na página www.procon.rj.gov.br, criamos uma avançada ferramenta de busca, na qual o interessado digita o nome do estabelecimento. Em segundos, aparece na tela o número de ocorrências, com as datas e principais ilegalidades encontradas em cada estabelecimento”, diz.

No site Reclame Aqui, Alila Pereira, que entrou com processo judicial contra o shopping de São João de Meriti, não esconde sua indignação: “Assim que comi o estrogonofe de camarão, passei mal. A comida estava azeda. Foi muito constrangedor, sem contar com o péssimo atendimento”, assegura.
No site, a direção do shopping pediu desculpas à cliente e adiantou que os funcionários foram advertidos. Já a empresária Jane Lima, de Volta Redonda, encontra-se em liberdade desde o dia 17, por força de alvará de soltura concedido pela Justiça.


Número de fiscais é pequeno

Embora o número de lanchonetes e restaurantes que servem refeições cheguem a quase 10 mil unidades no estado, o número de fiscais, entre técnicos e nutricionistas, é irrisório: 15 do Procon e 121 da Vigilância Sanitária Municipal. O equivalente a um fiscal para cada 73 pontos. “É pouco, mas é o que dispomos no momento”, concorda o superintendente da Vigilância Sanitária Municipal do Rio, Luiz Carlos Coutinho. Segundo ele, novos concursos estão previstos para o setor.

Para o diretor de Fiscalização do Procon-RJ, Fábio Domingos, o número é reduzido, mas os fiscais são especializados. “São profissionais altamente capacitados, com currículos analisados a dedo, no qual os fiscais não tiveram qualquer envolvimento com corrupção ou extorsão.”

Para monitorar o trabalho dos fiscais, os dois órgãos passaram a filmar as ações nos estabelecimentos visitados. “É uma segurança a mais para os funcionários que fiscalizam e para os próprios empresários”, diz Domingos.

A Delegacia do Consumidor da Polícia Civil informou que só no mês de março apreendeu mais de três toneladas de carne estragada em supermercados e restaurantes da capital e da Baixada. Sete gerentes foram presos.

Comida a quilo requer atenção do consumidor

O Ministério da Saúde, em um guia publicado na internet, ressalta que os restaurantes, especialmente os que vendem comida a quilo, são uma ótima opção, já que o consumidor pode escolher os mais asseados. Mas adverte que o reaproveitamento de alimentos, tornou-se uma prática criminosa e um problema sério em muitos desses locais. A escassez de fiscais e os valores de multas, que chegam, no máximo, a R$ 1,3 mil, seja qual for a irregularidade (exceto reincidências), contribuem para o problema.

“Fui jantar quase no fechamento de um restaurante a quilo na Lapa, e furei o céu da boca com um palito de dente quebrado no meio do arroz de forno. O gerente sequer se desculpou”, lembra o contador Josenir Alves, 47.

Mas como, então, o consumidor pode se orientar para, por exemplo, não adquirir uma intoxicação alimentar?

“Além de verificar a limpeza do ambiente, das mesas, paredes, balcões, copos, travessas e pratos, da disponibilização da caderneta de visita periódica de fiscais, e o uniforme dos funcionários, pratos quentes devem estar armazenados a uma temperatura acima de 60 graus. Já pratos frios, como saladas, devem ser ofertados abaixo de 15 graus. A direção do estabelecimento não é obrigada a colocar termômetros à vista, mas o consumidor pode exigir a verificação”, diz Luiz Coutinho, lembrando ainda que denúncias podem ser feitas pelo telefone 1746. Só em março, o serviço recebeu 680 solicitações de fiscalização.

Coutinho revela que no início do ano, a Vigilância Sanitária inspecionou saladas em 50 restaurantes do Centro e da Lapa. “Em 45 encontramos larvas, parasitas e bactérias. Inclusive, resquícios de fezes de cães”, comenta. O Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes oferece cursos de educação alimentar e manipulação de alimentos de graça.

Você pode gostar