Por thiago.antunes
Rio - O esquema de corrupção que envolve o deputado estadual Coronel Jairo (PMDB) com a máfia do Detran tinha hora especial de atendimento no posto de Campo Grande. As histórias da ação da quadrilha, relatadas por um ex-funcionária do departamento de trânsito à Justiça do Rio, revelam que os criminosos montaram um ‘serão da propina’. Eles reservavam datas extras no calendário de vistoria, permitiam encaixes, inspecionavam veículos fora do horário marcado e atendiam mesmo após expediente e até nos finais de semana. Tudo para facilitar a “caixinha”.
Na audiência com a juíza Regina Célia Moraes de Freitas, da 1ª Vara Criminal de Santa Cruz, a testemunha contou que, para facilitar o plantão da propina, o chefe do posto Flávio Tomelin entregou as senhas de atendimento a Sandro Afonso — irmão de Hélio Oliveira, genro do deputado Coronel Jairo. O rapaz era o controlador de um dos turnos de vistoria do Detran de Campo Grande e o encarrregado pela quadrilha de cobrar a “caixinha” diária de R$ 50 de cada um dos vistoriadores.
Material apreendido na Operação Cruzamento em outubro deste ano%3A esquema de fraude no DetranCarlos Moraes / Agência O Dia

Com 13 anos de serviço no posto, a testemunha revelou à Justiça que no caso de recusa do funcionário do Detran em vistoriar carros fora do horário, Sandro Afonso recorria ao chefe Flávio Tomelin e a ordem era expressa: libera. Além da pressão da chefia, a quadrilha usava a ameaça política. Fagner Gomes, compadre de Hélio Oliveira e coordenador de turno, repetia sempre a mesma frase diante de cara feia ao “trabalho” extra: “Deixa papai (Coronel Jairo) saber o que você está fazendo”.

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Os detalhes fornecidos pela ex-funcionária sobre a ação da máfia trouxe uma surpresa aos investigadores da Operação Cruzamento, em outubro: apesar de coordenar os vistoriadores no posto de Campo Grande, Sandro Afonso e Fagner Gomes não são servidores públicos ou empregados da Facility — empresa encarregada de selecionar funcionários tercerizados do Detran. Sandro é despachante e, Fagner, foi demitido em 2008 por envolvimento em clonagem de carro. 
Os veículos mais cobiçados pela quadrilha eram os carros movidos a gás e os blindados, que dependem de documentação e fiscalização especial — com maiores chances de falhas. Em outro grupo ficavam os veículos com possibilidade de falhas mecânicas e elétrica, como as vans, táxis e carros alugados.
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Solução de casos simples saía por R$ 150
As vistorias eram ao gosto do cliente: pipoca (passa pelo guiche, sem análise do carro), fantasma (o despachante resolvia sem a necessidade de levar o veículo) e até a especial, com direito a “esquentar” documentos de carros ilegais. Em média, nos casos mais simples a quadrilha cobrava R$ 150 dos motoristas. A estimativa é que a máfia movimentava R$ 2 milhões por mês em propinas. 
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Através de depoimentos e gravações, a Justiça chegou ao deputado Coronel Jairo. Ele é acusado de indicar os funcionários do Detran, envolvidos no esquema, para trabalhar no posto de Campo Grande. O político confirma que fez indicações para o curso de vistoriadores, mas que a nomeação é responsabilidade do Detran. Dos listados pela testemunha, alguns são amigos e quatro são parentes de Hélio Oliveira, genro do deputado.
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