Por nara.boechat
Rio - Uma sequência de imagens quadro a quadro, fotograma por fotograma, até que um novo universo ganha forma e movimento. ‘Minhocas’, o primeiro longa-metragem brasileiro todo feito com essa técnica de animação, o stop motion, completa amanhã uma semana em cartaz no país, mas suas ambições extrapolam a exibição nacional e visam a conquistar outros territórios — projeto que o próprio Paolo Conti, que assina a direção ao lado de Arthur Nunes, define como ousado, pela falta de mercado e cultura de produção de longas de animação por aqui.

Partimos da premissa de o filme poder competir no mercado internacional. Então, ele tinha que ter qualidade em nível técnico bem maior do que se via no Brasil até o momento”, explica Paolo, que, empolgado, adianta: “O lançamento internacional será feito pela Fox, nossa coprodutora e distribuidora no mundo todo. Já temos a versão em inglês e eles já estão fazendo a lista dos países em que o filme vai ser lançado.”

‘Minhocas’ aguarda lançamento no mercado internacionalDivulgação

Com dublagens de Rita Lee, Daniel Boaventura e Anderson Silva, entre outros, a trama do longa gira em torno de Júnior, uma jovem minhoca mimada pela família e rejeitada pela vizinhança. Para provar o seu valor, ele se mete em uma encrenca e vai parar na superfície da Terra. “Esse é o meu primeiro filme. Não tinha ideia de como era difícil esse processo. Só depois de pronto é que se entende”, comenta Paolo, que passou por muitos percalços até ver o seu projeto nos cinemas.

“Tudo começou como uma coprodução entre Brasil e Canadá, mas os canadenses não cumpriram a tempo sua parte no financiamento e decidimos encarar isso sozinhos”, lembra-se. Foi aí que os maiores dilemas surgiram. Sem muita verba, a equipe da animação tinha duas alternativas. “Podíamos trabalhar com computação gráfica, que é o mais comum hoje em dia, ou com stop motion, uma técnica rara, feita por pouquíssimos estúdios”, diz o diretor, que adotou a segunda opção, pois sabia que, para usar a primeira, teria que gastar muito mais dinheiro para alcançar a qualidade técnica desejada por ele.

“Nosso orçamento total foi de R$ 10 milhões, mas, para se ter uma ideia, geralmente, esses filmes são feitos com pelo menos R$ 50 milhões”, revela ele, que bateu o pé e decidiu ir contra a maré de um mercado já considerado difícil pelos profissionais da área. “Talvez exista um preconceito por aqui com esse tipo de produto. Acompanhei um blog sobre animação e, antes de assistir ao filme, a galera já estava falando mal dele.”

Os bastidores do longa-metragem feito em stop motionDivulgação

Mas, desafios à parte, Paolo faz questão de frisar que, depois de convencer todo mundo de que era possível concretizar o projeto de ‘Minhocas’, ele só deseja que o filme seja visto. “Quero que as pessoas assistam para dizer se gostam ou não”, deixa o recado.

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Boa safra nacional
Além de 'Minhocas', mais três longas-metragens brasileiros de animação eram esperados nas salas de cinemas do país, este ano. Porém, apenas ele e "Uma História de Amor e Fúria", de Luiz Bolognesi, foram lançados. "Até Que a Sbórnia Nos Separe", de Otto Guerra, e "As Aventuras do Avião Vermelho", de José Maria e Frederico Pinto, eram previstos até agosto e outubro, mas não entraram no circuito comercial.
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Com o mercado nacional limitado à média de apenas um longa-metragem por ano durante a última década, para o diretor Paolo Conti, os lançamentos de 2013 devem ser comemorados, mas talvez o quadro não se repita ou evolua nos próximos anos. "Isso é inusitado. Todos esses filmes nasceram com um projeto da Ancine (Agência Nacional do Cinema), de mais ou menos uns quatro ou cinco anos atrás. Então, provavelmente, isso não vai se repetir a partir de 2014, infelizmente", opina ele, que conclui: "Lançar um filme no Brasil é muito mais complexo do que fazer um filme".