Ministro do STF Flávio Dino foi ao aniversário do ex-presidente José SarneyReprodução: redes sociais

O mais longevo político brasileiro completou, nesta quarta-feira (24), 94 anos, sem perder o protagonismo. O ex-presidente e ex-senador José Sarney (MDB) realizou uma festa de aniversário em sua casa, na Península dos Ministros, em Brasília, onde reuniu governistas e opositores, passando por todas as esferas dos Três Poderes.
"Eu desejo tudo de bom para o senhor, viu? Na festa de cem anos dele vai haver 20 mil pessoas", brincou Flávio Dino, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e antigo rival político no Maranhão do clã Sarney ao comentar o volume de convidados.
 
O abraço entre os dois foi o momento mais celebrado da noite. Além de Dino, os ministros Kassio Nunes Marques e Cristiano Zanin representaram a Suprema Corte na festa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não compareceu, mas ligou para prestigiar o aniversariante. Assim como o chefe do Executivo de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.
A noite foi regada de muitos afagos, abraços entre antigos adversários e muita articulação política. Sarney fez questão de cumprimentar todos os convidados.
A vasta lista de presentes contou com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB); o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; e José Múcio (Defesa). Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Esther Dweck (Gestão), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), Waldez Góes (Desenvolvimento Social), André Fufuca (Esportes) e Juscelino Filho (Comunicações) também estavam entre os convidados.
A festa contou, ainda, com a presença do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, e do ex-procurador-geral da República, Augusto Aras.
Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estiveram na homenagem a Sarney, assim como a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, e os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira, e do MDB, Baleia Rossi, respectivamente.
Os convidados da festa, regada a espumante, vinho e whisky 12 anos, puderam testemunhar o efusivo abraço entre os deputados Aécio Neves (PSDB-MG) e Lindbergh Farias (PT). Além de captar, entre uma e outra conversa, Danilo Forte (União Brasil-CE) recomendar que o ex-ministro petista José Dirceu dê um "jeito no governo".
Os ex-senadores Luiz Estevão, José Roberto Arruda, Gim Argello e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha também estavam entre os convidados.
Temas de rodas de conversa
O adiamento da sessão do Congresso para analisar vetos e as tensas reuniões ao longo da tarde de quarta foram algumas das pautas principais das conversas. Lira queria a realização da sessão. Pacheco cancelou, alegando falta de acordo. E a articulação do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), entrou na mira das críticas de Lira à articulação do governo.
Falando em Lira, ele e Padilha não se encontraram. O ministro das Relações Institucionais deixou a festa cerca de dez minutos antes da chegada do presidente da Câmara que, há algumas semanas, criticou sua atuação.
Sobre as eleições municipais, presidentes de partidos apontavam capitais em que teriam mais força e costuravam apoios e alianças.
Sarney ainda se recupera de uma queda ocorrida no Carnaval deste ano, durante uma caminhada no quarteirão onde mora. O ex-presidente quebrou o úmero, maior osso do braço, e a clavícula.
O aniversariante, que passa por sessões diárias de fisioterapia, recebeu, por mais de cinco horas, os cumprimentos. De pé, ou sentado ao lado da mulher, Marli, Sarney posou para fotos e conversou com os convidados. "Quando sofro uma queda, Deus me levanta", disse.
Trajetória
Nascido em 1930, José Sarney assumiu um mandato na Câmara dos Deputados em 1955. Ele se elegeu deputado por mais dois mandatos, em 1958 e 1962. Já com uma década de vida política, foi eleito governador do Maranhão, seu estado natal, em 1965.

Após o único mandato como governador, ocupou o cargo de senador pelo Maranhão até o fim da ditadura, em 1985, mesmo ano em que se tornou candidato a vice-presidente – já no MDB – na chapa de Tancredo Neves para as eleições presidenciais. Com a morte de Tancredo, antes mesmo de assumir o cargo, Sarney se tornou presidente, o primeiro civil a ocupar o cargo após a ditadura.

Entre os principais marcos de seu governo, pode-se apontar a formação da Assembleia Constituinte, que elaborou e promulgou a Constituição de 1988, seguida até hoje no país. O então presidente também implementou os planos Cruzado I e II, em uma tentativa de controlar a alta inflação acumulada durante o regime militar.

O último cargo ocupado por Sarney foi novamente o de senador, mas pelo então recém-criado estado do Amapá. De seus 59 anos de vida pública, 24 foram passados nesta função, até a aposentadoria do político em 2015.

Além da carreira política, Sarney também desenvolveu uma série de obras literárias, entre contos, romances e ensaios. Há 44 anos na cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras (ABL), é o decano da agremiação.